
O Regresso do Caminho
Por cima da minha secretária tenho um quadro do Caminho.
É mais do que uma imagem — é uma memória viva, uma âncora silenciosa que me liga a tudo o que já vivi naqueles passos. Vai ser essa a foto que acompanha esta partilha, porque diz muito do que sinto.
Muito se fala do início do Caminho. Há sempre muitas fotos, muitos sorrisos, aquela energia boa de quem parte em direção ao desconhecido com o coração cheio de esperança.
Depois… depois vem a foto da chegada — em Santiago, em Fátima — e, a seguir, instala-se um certo silêncio. Quase uma penumbra.
Apesar de já ter vivido muitas chegadas e regressos, confesso que nunca me habituei totalmente àquilo que chamo de a nostalgia do pós-Caminho.
Quando estamos numa rota como esta, a vida simplifica-se. Tudo se reduz ao essencial: andar, comer, descansar. Tudo o que precisamos está connosco, às costas. É uma bolha de tempo onde o mais importante é pôr um pé à frente do outro. E nesse ritmo simples e profundo, abrimo-nos aos sons, aos cheiros, ao silêncio dos passos.
Mas quando chegamos… quando voltamos para casa… reencontramos as rotinas, as mesmas paisagens de sempre, os mesmos gestos, as mesmas conversas. Tudo parece igual, mas nós já não somos os mesmos. Porque o Caminho, mesmo em silêncio, mexe connosco. Transforma-nos.
E então vem aquele sentimento difícil de descrever — uma espécie de vazio, uma saudade não só do que vivemos, mas da versão de nós mesmos que lá existiu. Uma nostalgia que se instala entre o que fomos no Caminho e o que somos cá fora.
E quando nos perguntam: “Então, como correu?”, a resposta é quase sempre um “correu bem”.
Porque tudo o que sentimos lá dentro… é difícil de explicar.
Porque, no fundo, só compreende mesmo quem já calçou as botas e se entregou à estrada.
E contigo, como foi o teu regresso?
✍️ Luís Negrita
Guia Privado | Passa Montanhas Private Trekking Guide